segunda-feira, 25 de maio de 2009

Timidez = Perfeccionismo

“Olá, Erika! (...) Tenho 32 anos e até hoje nunca consegui namorar sério. Trabalho com (...) e por isso estou sempre conhecendo homens bonitos e interessantes, mas nunca tenho coragem de mostrar para eles o quanto sou diferente das outras mulheres. Acho que sou muito insegura, fico com medo que eles me achem ridícula e precipitada e que achem que eu tenho algum problema quando souberem que eu nunca tive namorado. Sou uma mulher atraente, que não aparenta a idade que tem, tenho pós-graduação, sou culta e educada, mas mesmo assim tenho dificuldade para encontrar alguém especial, e ao mesmo tempo vejo mulheres sem tantos atributos quanto eu se dando bem! O que eu posso estar fazendo de errado? Você pode me dar algumas dicas?” R., 32 anos.

O e-mail da R. é uma ótima oportunidade para falarmos sobre algo que atrapalha qualquer tentativa de conquistar um relacionamento sério e gratificante: a timidez.

Vamos falar primeiro sobre timidez. Eu gosto de dizer que tudo aquilo que chamamos de “defeito” é, na verdade, uma qualidade que “passou da medida”. Alguns exemplos: a teimosia pode ser considerada uma firmeza de caráter exagerada, ou o egoísmo um excesso de compromisso consigo mesmo. Da mesma forma, a meu ver a timidez é uma consequência do perfeccionismo, que é o excesso de cobrança sobre si próprio e os outros pela perfeição.

Geralmente, as pessoas tímidas têm várias qualidades, mas para elas isso não é o suficiente. Elas acham que deveriam ser as melhores em tudo, que deveriam ver algo pela primeira vez e já saberem do que se trata logo de cara, que ao conhecerem alguém devem mostrar tudo que sabem, que devem ser desenvoltas, agradáveis o tempo todo e ter respostas na ponta da língua. Quanta cobrança sobre si mesmo, não? Com essa forma de perceber as coisas, não é de se espantar que pessoas que pensam assim simplesmente travem quando conhecem alguém que lhes interessa.

O que pode diminuir bastante aquilo que chamamos de timidez é perceber que ninguém é perfeito, que todo mundo erra em algo mais cedo ou mais tarde e que o mundo não vai acabar por causa disso. Geralmente o tímido tem uma visão equivocada de si e das outras pessoas, pensando que estas nunca erram e que, portanto, ele não pode errar também. Começar a perceber os pequenos e grandes erros cometidos pelas pessoas que o tímido mais admira pode ser libertador para elas, pois com isso ele aprende que também tem o direito de não ser “100%” em tudo, fazendo as pazes com a sua humanidade.

Tudo que sei sobre a R. são as coisas que ela me relatou através de seu e-mail, mas este me dá vários elementos para construir algumas hipóteses sobre o que pode estar dificultando seus planos de “namorar sério”. Há um trecho que diz: “Sou uma mulher atraente, que não aparenta a idade que tem, tenho pós-graduação, sou culta e educada, mas mesmo assim tenho dificuldade para encontrar alguém especial, e ao mesmo tempo vejo mulheres sem tantos atributos quanto eu se dando bem!”

R., pelo jeito você pensa que para se conquistar um homem e ter um relacionamento sério com ele é preciso ser uma “supermulher”: com uma beleza “de parar o trânsito”, uma educação primorosa, QI alto e ainda por cima um rostinho de menina. Ou seja, você acha que é preciso ser perfeita para se “merecer” um relacionamento sério! Como você, que pela sua mensagem indica ser uma mulher inteligente, já deve ter percebido que não é perfeita, então pensa estar em desvantagem em relação à sua capacidade de conquistar um homem. Você talvez não valorize as qualidades que tem e, por isso, pensa que os homens também a veem da mesma maneira. E esse é o maior drama do tímido, que gera muita insegurança e ansiedade – justamente duas coisas que atrapalham bastante o jogo da conquista.

Recomendo aos tímidos, portanto, que tentem relaxar. Como qualquer ser humano, vocês têm vários defeitos, mas também inúmeras qualidades – as quais quem tiver olhos para isso conseguirá enxergar. Não tentem ser perfeitos (pois esta é uma luta fadada ao fracasso), pois não é a busca pela perfeição que nos garante sucesso nas diferentes áreas da nossa vida, e sim a capacidade de não se deixar abater pelos erros que inevitavelmente cometeremos ao longo do caminho.

Quando eu estudei música, há muitos anos, tive um professor que me disse algo que tenho levado desde então para a minha vida: “O músico inevitavelmente, ao tocar uma canção ou peça, vai errar alguma nota ou o tempo dela, mas ele não pode paralisar com este erro e interromper a peça: é preciso continuar e não se deixar dominar pela sensação de fracasso. Com o tempo e muita prática, você erra menos na execução, mas sempre escapará alguma coisa. O bom músico é aquele que não se desestabiliza quando erra”.

Pois bem... Desde então tenho observado que estas sábias palavras do meu professor não se aplicam apenas à música, e sim à vida como um todo. Tímidos e tímidas: pensem em tudo isso e de agora em diante procurem encarar a vida com mais leveza, certo? Desejo a todos muita sorte e felicidade!

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